Ontem o empresário Eng. Helder Fernandes (natural da Calheta de Nesquim) deu uma interessante e ponderada entrevista ao jornal Diário Insular, sobre a ideia em gestação da parte de um grupo de empresários do Pico, São Jorge e Faial que criou um fórum de reflexão para debater as questões relacionadas como diferentes vertentes do desenvolvimento das ilhas do triângulo – afirmando que: Há muito por fazer pela economia no triângulo.
Ao longo da entrevista vai abordando temática diversa que cito com a devida vénia:
“Numa perspetiva um pouco mais abrangente, pretende-se elaborar um documento que congregue o que de disperso já vai existindo sobre essa matéria e, eventualmente, propor, a quem de direito, ações que visem essa hipotética melhoria da situação nas ilhas do triângulo. (…) Nos transportes, consideramos as vertentes de mercadorias e de passageiros via aérea e marítima. É nesta última que vamos tentar introduzir algumas alterações que se prendem diretamente neste sector turístico. Necessitam-se mais, no mínimo um voo semanal Lisboa-Pico-Lisboa e dois na época alta e com custos mais acessíveis. Nada nos repugna que os mesmos sejam, numa primeira fase e como já acontece, via Terceira. Assim há uma maior garantia na rentabilização da rota. As lanchas terão de circular tendo em atenção os horários dos voos respetivos. Não poderá ser esquecida a situação de São Jorge que, onde ser circula habitualmente pela Terceira mas que também se poderá optar pelo Pico ou Faial. Interessa unicamente servir as populações (residentes e turísticas) com o menor incómodo possível. Outros temas irão ser abordados sempre na ótica da enorme sazonalidade. Há que criar condições que na época baixa possam constituir atração para o turismo. Temos ilhas limpas, bem infraestruturadas e algo muito importante que é a segurança. (…) Divulgar nos restaurantes o nosso bom peixe e boa carne com ementas tipicamente regionais. Por outro lado deve-se promover visitas guiadas a adegas, queijarias e outras estruturas que podem ser utilizadas para o turismo e melhorar a lei da caça pensando mesmo na instalação de novas reservas. Também é importante é a formação na área do turismo. Para tal, terá de haver uma relação muito estreita com as escolas profissionais. (…) Pelas condições que sabemos existirem nos barcos em questão (os Ferrys que entrarão ao serviço em 2014), julgamos ser uma mais-valia, quer em comodidade, velocidade e transporte de viaturas (neste caso mais para o turismo interno). Mas é preciso não esquecer nunca que o triângulo, com as ligações marítimas que vai possuindo, será um circuito apetecível. Mas terá de ser sempre enquadrado num conjunto de grupo Central e regional no seu todo. (…) Sei que as rivalidades entre as ilhas estão bastante esbatidas e tendem a diminuir, tanto quanto as pessoas se forem convencendo (e vão) de que esse isolamento a nada mais conduz do que a isso mesmo – rivalidade. Esta iniciativa surge com o objetivo de se debater em conjunto as questões do triângulo.” (Fim de citação)
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Sobre estas ideias algo generalistas, mas sobremaneira consensuais, o que surpreende é o voluntarismo deste grupo que, salvo melhor interpretação, surge algo fora dos núcleos (Pico e Velas) ou Câmaras de Comércio (Angra e Horta) e da Associação Comercial do Pico, o que pode querer dizer que uns andarão de costas voltadas para os outros…
Mas o mais significativo sobre esta entrevista surge hoje no editorial do D.I. procurando entrar neste jogo comercial, com o intuito de tirar dividendos para a ilha Terceira e cito: “Já aqui afirmámos, mais do que uma vez, que a Terceira não pode ficar excluída deste conceito triangular e diríamos mesmo que, forçosamente, deveria incluir a Graciosa, ampliando o conceito para grupo central. Geograficamente faz sentido, os interesses são comuns e é fácil construir uma rede de negócios que sirva todos e onde todos lucrem.
Desde logo uma rede de transportes, cujos fundamentos já existem, é só alargá-los e torná-los mais abrangentes. Fundamental a qualquer estratégia é uma porta de entrada e saída marítima e um sistema ágil de distribuição e recolha. Haverá melhor do que o porto da Praia da Vitória, complementado por uma frota ágil de distribuição e recolha de carga?” E conclui: ”É também devido a isso que a “revolução” nos transportes nunca se fez, pois há que fomentar a discórdia entre o grupo central para que o projeto fragilize e nunca tenha pernas para andar. Poder-se-á perceber que as ilhas mais pequenas do grupo central olhem o tamanho da Terceira com desconfiança, mas se houver coragem para se sentarem à mesma mesa (políticos, autarcas, empresários, homens da cultura e outros representativos de instituições com o mínimo de peso) rapidamente concluirão pelo vazio desses temores. Perdem-se sinergias, desperdiça-se um mercado interno. Em nome de uma ideia triangular?” (fim de citação e sublinhado nosso)
Lá vem novamente a ideia muito cara à ilha Terceira e às empresas de navegação lá sedeadas de querer concentrar cargas na Praia da Vitória quando, e ao longo dos anos, tal tem sido substancialmente provado que a carga contentorizada proveniente de Lisboa deve vir diretamente para os portos de Velas, São Roque do Pico e Horta e não necessita de ser “paletizada” na Praia da Vitória, como aconteceu infelizmente com o fim do transporte em contentores do cimento produzido na Praia da Vitória que, obrigatoriamente, passou a ser transportado em paletes para as ilhas do triângulo…
Já agora, sem qualquer remoque essa das ilhas mais pequenas cheira a quê? A estratégia montada de fora, do tipo dividir para reinar, citando o mesmo editorial?
Será que nos querem envolver nas tais teias que o interesse económico tece, mas que nada aproveitam ao consumidor final?
Fiquemos alerta, todos, mas de todas as três ilhas do Triângulo.
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